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SIMPLESMENTE



 

Está na hora de dizer ao rio que retroceda. Deixe de correr desenfreado porque a maré já foi. Não foram as rochas ou a seca, nem tão pouco o aquecimento. Foi apenas o tempo que passou. E ela, a maré, simplesmente foi. Não deixou recado à gaivota nem uma nota na areia, simplesmente fatigou.

As searas também esperaram pelo vento. Mas o vento mudou. Apenas ficou um chapéu, debaixo da azinheira, daquele pastor que se perdia por aqui à hora da sesta. O vento nem deixou rasto, simplesmente foi soprar para outra planície. Simplesmente mudou.

Aquele sobreiro que sombreava a merenda, não abalou, mas tombou. Era um sobreiro importante, já de idade. Dizem que foi um mal que lhe deu, talvez com sede ou com calor ou triste. Não sei. Simplesmente tombou.

A pequena ribeira, vaidosa e refrescante, que passava na terra do Sr. Joaquim, secou. Houve um dia que não veio. Os rapazes esperavam por ela para se banharem e até pescarem e ela faltou. Não foi culpa dela nem do tempo ou do vento. Foi culpa daquela fábrica nova que abriu. O Sr. Joaquim esmoreceu, a sua ribeira faltou naquele dia e no outro e não mais voltou.

Aquela videira que hoje pariu, chorou. Viu partir os seus bagos nas mãos de alguém estranho e chorou. Não era só ela, milhares de outras videiras viram assim os seus bagos partir em mãos desconhecidas. Choraram de amor, choraram de dor. Os bagos partiram, mas a videira não desanimou e com alegria o descanso encontrou. No próximo ano voltará a renascer, haja vento, sol, chuva e mãos que as acudam. A videira chorou, mas feliz ficou.

Aquela mulher sentada na areia esperou. Confiou no sol, na lua, no vento e no mar e esperou. Com a maré ele não voltou. O por do sol findou. A areia foi ficando fria e o céu anoiteceu. Simplesmente ele não voltou. Talvez ele não soubesse dela ou simplesmente ignorou.

São as contrariedades da vida que nos fazem crescer. Agora vou. Simplesmente vou.

 

Bom dia!

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